sábado, 5 de outubro de 2013

The 1975 - The 1975

É preciso voltar a 2008 para encontrar um artista musical relativamente novo em termos criativos que do nada se assume como um favorito... Setembro de 2013? O auto-intitulado álbum de estreia dos The 1975! Arte, sentidos e memória! É um daqueles casos cada vez mais raros (talvez porque a adolescência é o pico das descobertas, das paixões) de um álbum que pauta um período de tempo da minha vida, que tem o poder de criar a ambiência de tudo o resto, de alterar o meu humor. É um sentimento da mesma família do amor passional...


Focando-me na sua sonoridade, o que é oferecido é uma banda sonora para os anos formativos num rock/synthpop voltado para os anos 80. Há muito de Michael Jackson, de Simple Minds ("Girls" encaixaria em algum filme de John Hughes), de Peter Gabriel, da era Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me dos The Cure... Talvez sejam comparáveis a M83, porém aqui as guitarras prevalecem sobre elementos puramente electrónicos.















De início poderá parecer longo e a quantidade de interlúdios exagerada. Assim que se entra no tom do que se ouve, flui na perfeição e os tais intervalos para isso são fulcrais. Há também uma boa convivência entre números mais straightforward - "Heart Out", "Chocolate", "She Way Out"... - e outros mais experimentais, - "Menswear" num registo de R&B ou a jazzy "Pressure"- próximos do material dos 4 EPs antes lançados. Estas duas faixas, juntam-se a "Is There Somebody Who Can Watch You" num final alongado e anticlimático (considerando a energia que caracteriza o álbum). O piano subtil e a voz cansada acabam por funcionar bem, como se simbolizassem uma ida contemplativa para a cama, um final para todos os anos de adolescência. 

É que em termos de letra, o amor, o sexo, as drogas e as aventuras daí emanadas são os grandes temas. Talvez neste sector deixe um pouco a desejar, mas refrães como o de "The City" - "Yeah you wanna find love then you know where the city is" - ou versos como "But you're losing your words / We're speaking in bodies / Avoiding me and talking 'bout you..." em "Settle Down" são exemplos de "liricismo" belo e simples (a meu ver o mais adequado para este tipo de música).

 

A voz de Matt Healy alterna entre o "choroso" de "Sex" (aí é quase reminiscente de Jim Adkins - Jimmy Eat World) e o melancólico na já falada última faixa. O seu timbre bastante distinguível ajuda a conferir carisma à banda.

Atenção especial para a balada "Robbers" que cria um imaginário de romance a la Bonnie and Clyde (para ser mais preciso a inspiração é o filme True Romance). Em crescendo, sombria, é nesta canção que as vocais de Matt, ensopadas de emoção, se soltam e mais brilham.

 

Por último, a produção é perfeita para o projecto artístico! Polida, acolhedora e todos os instrumentos / vocais / arranjos no lugar e com relevância adequada... Como eu gosto de viver numa época de revivalismo da música pop / rock dos anos 80!

The 1975 vai rivalizar com Damage (Jimmy Eat World) e Trouble Will Find Me (The National) para o meu álbum preferido do ano. Tem a seu favor uma lua-de-mel que acredito ser para durar...

Desejo mesmo muito que expludam a nível comercial. Canções orelhudas, acessíveis, ritmos de fazer bater o pé... Porque não? Ter um álbum de estreia no número 1 das tabelas de vendas do Reino Unido é um bom começo a esse nível...

Envolto por este pano de fundo auditivo, em menor escala e de modo intermitente, tenho sentido aquele fogo doce palpitante, aqueles êxtases existenciais que a adolescência saudosamente me revelou. :') 

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